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A tempestade perfeita da educação brasileira

BNCC e a nova proposta de ensino na educação brasileira

Apesar dos desafios estruturais, este é o momento ideal para uma nova proposta de ensino no país, rompendo de vez com o formato verticalizado

Os problemas da educação pública brasileira são bastante conhecidos há décadas e podem ser analisados por diferentes ângulos.

Podemos começar pelos problemas estruturais, que são os mais visíveis, com suas instalações sempre defasadas e insuficientes, e suas dificuldades logísticas, especialmente em escolas da zona rural. Já no fator humano, soa o alerta para um grande contingente de alunos que fazem sua única refeição completa justamente na escola.

Do ponto de vista político, as constantes trocas de diretorias e a descontinuidade de políticas públicas persistem, ferindo todos os critérios de impessoalidade que deveriam pautar a gestão pública (isso quando não há malversação dos recursos públicos).

E no aspecto pedagógico, debate-se muito a questão de professores mal remunerados e/ou mal preparados, sem dar devida atenção a uma questão anterior: a metodologia. A educação precisa repensar suas práticas, de forma a tornar o ensino mais significativo para o aluno. Junto a problemas socioeconômicos, a desmotivação é apontada como uma das maiores responsáveis para a evasão escolar.

Chegada e o impacto da BNCC

Por esta razão, boa parte da comunidade escolar recebeu bem a chegada da BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Homologada em dezembro de 2017, após anos de discussões e algumas reescritas, a educação brasileira dava, enfim, um passo importante em direção ao século XXI.

Os dois anos seguintes foram de compreensão e estudo do documento. Muitos municípios promoveram formações com os professores da rede, e as primeiras iniciativas para colocar algumas dessas novas diretrizes em prática foram testadas. Era, como se sabia, um processo lento e exigia o esforço coletivo dentro da comunidade escolar.

Porém, esse movimento sofreu uma freada brusca em 2020. Se era comum ouvir que “o mundo parou” em função da pandemia, no caso da educação pública brasileira, não era força de expressão. Estudos mensurando o tamanho do estrago começaram a sair ainda em 2021.

Dados da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (Seduc-SP) mostraram quedas de pontuação de 46 pontos em matemática e de 29 pontos em português, no comparativo com 2019 e calculou que os atrasos de aprendizado podem demorar até 11 anos para serem revertidos. Já a Unicef foi ainda mais alarmista, apontando uma “erosão” no ensino, com “perdas quase irrecuperáveis” para uma geração inteira, que foi profundamente afetada.

Nova Proposta de Ensino junto a modernidade

É fato que a educação brasileira não estava preparada para a digitalização do ensino, imposta à força pela pandemia. Mesmo as escolas privadas tiveram de implementar às pressas seus sistemas de Ensino a Distância. Já o ensino público não dispunha de tais instrumentais e, desta forma, teve de fechar as portas, só abrindo parcialmente, seguindo as orientações sanitárias constantemente atualizadas pelas secretarias de saúde.

Em muitos municípios no interior do Brasil a realidade se impôs com mais virulência: o ensino deixou de existir por dois anos. A educação no país, como um todo, só foi retomada integralmente com suas atividades presenciais a partir do segundo semestre de 2022. Uma difícil readaptação que se acumulou a todos os problemas já existentes antes da pandemia, tornando o desafio ainda maior.

Oportunidade para reinvenção

Depois de tantas más notícias, você, leitor, pode estar se perguntando como seria possível resolver tantos problemas que se somam e se retroalimentam. Mas há solução.

O melhor caminho para recomeçar está justamente na retomada da implementação da BNCC. Ao contrário do que muita gente pensa, ela não veio para pressionar ainda mais a já pesada carga horária dos professores. Veio para substituir metodologias ultrapassadas que só contribuem para esvaziar o ensino de significado e encher as fileiras da evasão escolar.

Essa implementação vai facilitar a vida não apenas de quem ensina, mas também de quem aprende. Educação interdisciplinar, temas transversais, Educação Ambiental, atividades práticas com sustentabilidade, Educação Financeira, gamificação, atividades no contra turno, projetos, eletivas. Tudo isso se soma na busca pelas habilidades socioemocionais e cognitivas, tão almejadas pela educação moderna.

Com o vácuo de ensino deixado pela pandemia, o que seria a tempestade perfeita pode ser vista como a janela de oportunidade para essa reinvenção.

Este é o momento de trazer um novo olhar para a educação, romper de vez com o ensino verticalizado. É o momento também de redefinir a figura do professor, que deixa para trás o papel de autoridade detentora de todo o conhecimento para se tornar um mentor/mediador, que promove diálogos.

Por essa razão, um dos principais esforços hoje está na valorização e na formação de professores. A pandemia obrigou o sistema de ensino a derrubar muitas barreiras digitais, o que abriu uma nova proposta de ensino, com a Educação a Distância.

Hoje é possível formar professores da rede pública a distância em diversas temáticas interdisciplinares alinhadas à BNCC, municiando-os com material pedagógico, claro, mas principalmente com novas práticas, que podem ser desenvolvidas dentro e fora da sala de aula, além de promover a integração da comunidade escolar e a multiplicação desses aprendizados entre outras escolas e educadores. E tudo isso pode ser alcançado sem a necessidade de grandes somas de dinheiro.

Como dito há pouco, a caminhada é longa, mas o principal já temos: sabemos qual é o destino que buscamos, sabemos qual é o melhor caminho e possuímos os meios para realizar essa travessia.

                                                                                                                                             Por Diogo Salles

*Diogo Salles é graduado em Comunicação Social, pós-graduado em Projetos Sociais e Políticas Públicas e atua pelo Instituto Brasil Solidário, que trabalha a educação interdisciplinar


[1] Sobre o estrago provocado pela pandemia no contexto da educação, acessar o link a seguir: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2022/01/23/unicef-covid-gerou-erosao-do-ensino-no-brasil-e-retrocesso-de-uma-decada.htm Último acesso em 7 mar. 2024

[2] Para os indicadores acerca da aprendizagem, vale a pena consultar o texto a seguir:

https://www.educacao.sp.gov.br/estudantes-dos-anos-iniciais-tiveram-regressao-na-aprendizagem-durante-pandemia-mostra-avaliacao/ Acesso em 7 mar. 2024.

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