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Podcast 698 – Carlos Nobre: “A ciência mundial está muito preocupada com o destino da Amazônia”

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​A academia científica da Royal Society elegeu o cientista climático Carlos Nobre, um dos principais pesquisadores que estudam a floresta amazônica, como seu primeiro membro brasileiro desde que o imperador Dom Pedro II se juntou ao grupo no século 19. Em entrevista ao nosso Podcast, além de falar sobre o significado dessa nomeação, Carlos Nobre apresenta em detalhes as causas e as consequências das mudanças climáticas, alerta para o ponto de não-retorno em relação ao desmatamento da Amazônia e critica a desconexão entre a vontade popular de preservar a floresta e as políticas econômicas para aquela região. 

No começo da entrevista, Nobre fala a respeito do significado da escolha da Royal Society. Na avaliação do cientista brasileiro, existe, para além do reconhecimento da trajetória acadêmica, uma sinalização acerca da preocupação da opinião pública global para com este tema. “O prêmio da Royal Society tem muito a ver com a percepção global da comunidade científica em relação ao destino da Amazônia. Como tenho alertado a respeito dos riscos que a floresta corre, acho que a mensagem de ter sido o segundo brasileiro eleito como membro é significativa”. 

De fato, o trabalho de pesquisa de Carlos Nobre vem de longe. O cientista, aliás, é o formulador da hipótese da “savanização”, processo que ele explica no trecho a seguir: “A savanização é um tipo de vegetação muito degradada com árvores, principalmente árvores do ecossistema da Savana tropical (que resistem a uma estação seca maior e resistem ao fogo), com muito menos carbono e com muito menos biodiversidade do que o Cerrado”.  

Nesse sentido, o pesquisador também tem estado atento aos impactos das mudanças climáticas, uma realidade que, a cada dia, se impõe junto ao meio ambiente. No dia da entrevista, a propósito, foi divulgado o relatório da Organização Metereológica Mundial no que se refere ao combate às mudanças do clima. E as palavras de Carlos Nobre a esse respeito não deixam dúvida quanto à urgência deste assunto. “Existe este enorme risco de que nós estamos muito próximos deste ponto de não-retorno. E as mudanças climáticas estão causando um aumento no número de extremos climáticos, como as secas intensas”. 

Em outro momento da entrevista, o entrevistado do Podcast Rio Bravo comenta o fato de que, a despeito de a esmagadora maioria da população defender a preservação da Amazônia, as ações do governo sejam voltadas para este fim. Nas palavras de Carlos Nobre: “É muito preocupante a desconexão que existe entre a vontade popular e as políticas econômicas para a Amazônia. Há muitas décadas, as pesquisas de opinião mostram que quase a totalidade da população brasileira é a favor da preservação da floresta. Por que essa vontade da população não é refletida em políticas públicas?”  

Em relação a essa desconexão, Carlos Nobre faz dura observação a determinado setor do agronegócio, mais precisamente aquele que “luta permanentemente pela expansão de áreas do agronegócio”. Para o cientista, este grupo em questão está muito mais preocupado com essa agenda expansionista, “de posse da terra, do que ter um agronegócio preservacionista, que defende a agricultura regenerativa e de alta produtividade”. 

Em seu currículo, Carlos Nobre coleciona a passagem pela presidência da Capes, órgão responsável pela coordenação, consolidação e expansão da pesquisa stricto-senso (mestrado e doutorado) no Brasil. Quisemos saber como ele analisa o cuidado que a pesquisa científica tem recebido no Brasil nos últimos anos. “Nos últimos anos, o Brasil está vendo o pior investimento da Capes, do CNPQ, dos institutos de pesquisa – nem mesmo os governos da ditadura militar eram assim, pois os militares tinham uma visão importante para o Brasil ser independente, autônomo, desenvolvido e por isso eles investiram muito em ciência. Isso está sendo desmontado atualmente. Então, nós temos de não mais eleger autocratas e políticos que tenham visão anticiência”. 

Na Royal Society, Carlos Nobre tem a expectativa de contribuir levando cientistas dos países amazônicos e do mundo inteiro a buscarem alternativas para a Amazônia, como uma economia que seja sustentável. “Manter a floresta em pé, gerar uma nova bioeconomia, melhorar as condições para as populações amazônicas, reconhecer e respeitar a cultura indígena e das comunidades locais, assim como trazer uma moderna ciência para agregar valor aos produtos da floresta”.  

Carlos Nobre sabe que o desafio é enorme, mas conta com a atenção e o engajamento de cientistas do mundo todo. 

A íntegra da entrevista de Carlos Nobre ao Podcast Rio Bravo pode ser acessada a partir do link a seguir 

Fabio Cardoso é jornalista e produtor do Podcast Rio Bravo. 

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