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Podcast 694 – Aline Burni: As eleições na França e a nova disputa entre Macron e Le Pen

O segundo turno das eleições na França, que aconteceu no último domingo, dia 24, colocou, novamente, Emmanuel Macron e Marine Le Pen frente a frente. À primeira vista, o confronto, vencido por Macron, era apenas a reedição do embate entre esses mesmos dois candidatos em 2017. No entanto, como foi possível observar a partir do resultado das eleições, a disputa representou algo além: afinal, a extrema direita jamais teve tantos votos – e mesmo a análise do jornal Le Monde, após as eleições, dava conta disso1. Na edição desta semana do Podcast Rio Bravo, conversamos com Aline Burni, doutora em ciência política pela UFMG e pesquisadora do Observatório da Extrema Direita. Na entrevista, o significado das eleições, uma análise do primeiro mandato de Macron e a relação entre Brasil e França, que anda estremecida desde 2019. 

Aline Burni afirma que o Macron que se reapresentou para as eleições deste ano não foi o mesmo candidato que não pertencia aos quadros da política tradicional em 2017. Nas palavras da entrevistada: “Em 2017, Macron era um candidato que representava a novidade e a ruptura do sistema político. Desta vez, ele já tem experiência de governo, o que traz mais rejeição do que antes”. Burni destaca, ainda, que, em relação ao último pleito, as inquietações do eleitorado também mudaram. “Em 2017, as preocupações tinham a ver com desemprego, terrorismo; enquanto, neste ano, as preocupações giram em torno do poder de compra dos franceses que caiu bastante nos últimos meses, a saúde pública como consequência da pandemia de Covid-19 e a aposentadoria”.  

Quisemos saber, então, se a administração de Macron superou os desafios que foram apresentados desde 2017. Será que, de algum modo, existe a percepção de que o presidente deixou a desejar durante a sua administração? “Apesar de todas as crises que ele teve de gerenciar, o saldo é mais positivo para Macron do que parece ser. Em termos de reformas, ele frustrou parte do eleitorado, sobretudo os mais jovens, que esperavam por mudanças radicais. Mas ele teve conquistas importantes, como a taxa de desemprego que diminuiu, além de ele ter gerenciado bem as crises que enfrentou, como a pandemia e agora a guerra entre Rússia e Ucrânia”.  

Ao longo da eleição, um nome que ganhou força nas análises políticas na França e no Brasil foi o de Éric Zemmour, o candidato que foi o outsider da vez. Qual foi a importância dessa candidatura, que terminou em quarto lugar no primeiro turno? A pesquisadora do Observatório da Extrema Direita responde: “Foi um resultado significativo para uma primeira candidatura de uma personalidade de fora da política. E me parece que ele tirou votos da Marine Le Pen no primeiro turno e da candidata da centro-direita (Valérie Pécresse), porque Zemmour tentou representar um retorno ao nacionalismo mais exacerbado, que fez parte de um grupo da centro-direita nas suas formações passadas”.  

Em outro momento da entrevista, Aline Burni comenta a performance da esquerda, que, pela segunda vez consecutiva, ficou de fora do segundo turno. É correto falar em colapso dos partidos de esquerda? “Existe um colapso dos partidos tradicionais, de centro-esquerda e de centro-direita. Mas eu não diria que isso significa um colapso da demanda à esquerda. Existe uma redução dos eleitores que preferem candidatos à esquerda, mas muito mais no sentido das ofertas tradicionais, como do Partido Socialista, do que em relação ao bloco da esquerda, de forma mais geral, mais heterogênea. Os partidos tradicionais de esquerda perderam muito da sua identidade programática e a conexão com suas bases sociais. Hoje, por exemplo, o eleitorado de Marine Le Pen é muito mais popular, se concentra em cidades mais rurais e periferias, entre cidades mais pobres e menos escolarizadas, do que partidos ou candidatos à esquerda”.  

Ao final da entrevista, a pesquisadora do Observatório da Extrema Direita comenta a relação entre Brasil e França, abalada desde 2019, quando as rusgas entre Bolsonaro e Macron ficaram evidentes. “Já existe há algum tempo uma tensão entre esses dois governos, e eu diria que o principal ponto de atrito é a governança muito ruim da Amazônia, das políticas ambientais por parte do atual governo brasileiro. Macron, inclusive, deixou muito claro que não irá ratificar aquele acordo entre União Europeia e Mercosul enquanto Bolsonaro estiver no poder por conta do saldo muito negativo da atual administração quanto às políticas ambientais e climáticas”. 

Poucas horas depois de anunciada a vitória, Emmanoel Macron publicou o seguinte no Twitter: “Fazer da França uma grande nação ecológica, este é o nosso projeto”. 

A íntegra da entrevista de Aline Burni ao Podcast Rio Bravo pode ser acessada a partir do link acima.

Fabio Cardoso é jornalista e produtor do Podcast Rio Bravo 

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