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Podcast 703 – Isobel Heyman e Tamsin Ford: A saúde mental de crianças e adolescentes no pós-pandemia 

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Não foi de repente que a depressão passou a fazer parte do cotidiano de milhões de jovens mundo afora. Mesmo antes da pandemia, e das medidas de distanciamento social, a crise relacionada à saúde mental já era uma notícia que causava inquietação. Só que esse ambiente se tornou ainda mais tenso de uns tempos para cá. Nesta edição do Podcast Rio Bravo, entrevistamos duas especialistas que vão trazer uma análise singular para esta temática. Para isso, contamos com experiência de Tamsin Ford, acadêmica da Universidade de Cambridge e pesquisadora clínica da otimização de intervenções e serviços para a saúde mental infantil com foco nas escolas; e Isobel Heyman, psiquiatra especializada em adolescentes e consultora, atuando hoje em dia no Great Ormond Street Hospital for Children, que fica em Londres.

A entrevista começa com uma pergunta bastante abrangente: qual foi o impacto da pandemia junto aos jovens no que se refere à saúde mental? Afinal, em 2020, com o aumento de casos de depressão, psiquiatras e pesquisadores lançaram um olhar dedicado em relação às demandas de crianças e adolescentes – e mais recentemente, veículos de prestígio da imprensa internacional, como o The New York Times¹, apontaram para a gravidade do problema.

Tamsin Ford responde: “Os resultados no mundo todo são variados e isso provavelmente tem a ver com a metodologia da pesquisa adotada. Ao mesmo tempo, muita coisa aconteceu ao longo da pandemia. A depender do país, houve mais ou menos isolamento social. Aqui na Inglaterra, tomando como base os dados de 2020 e 2021, houve uma deterioração no que se refere à saúde mental para meninos e para meninas. E o que nós percebemos aqui é que houve um salto: antes da pandemia, os casos eram de 1 em 9; agora, 1 em 6. E provavelmente há grupos com demandas especiais que parecem estar mais vulneráveis – assim como adolescentes em mulheres que já não estavam bem antes da pandemia”, analisa a pesquisadora.

De sua parte, Isobel Heyman, tomando como ponto de referência a sua atuação no atendimento clínico, afirma que a quebra da rotina teve impacto imenso em muitas crianças. “Todos esses aspectos da vida, que, na percepção das crianças, representavam um dia de trabalho – ir para as escolas, encontrar os amigos e fazer as demais atividades e hobbies – foram descontinuados. E se acrescentarmos o fato que, para muitas crianças, foi a primeira vez que tiveram de lidar com a notícia da morte de um membro da família ou de alguém muito próximo, é necessário considerar que esses jovens enfrentaram uma situação demasiadamente estressante”, pondera a psiquiatra.

Heyman destaca, ainda, que é preciso avaliar o impacto da Covid-19 na saúde mental de algumas crianças. “Existem estudos que já estão fazendo essa investigação – e a boa notícia é que, em crianças e adolescentes, é muito raro que o vírus esteja provocando danos na saúde mental, mas existe um subgrupo pequeno no qual há esse abalo no sistema nervoso central”.

Em outro momento da entrevista, Tamsin Ford observa que alguns grupos que estarão mais vulneráveis, no que tange à saúde mental, em função dos acontecimentos dos últimos dois anos. “Ouço que professores estão preocupados com o desenvolvimento social e desenvolvimento de linguagem”. A pesquisadora assinala que, porque algumas famílias são pequenas, muitas crianças não tiveram a experiência social que outras gerações costumam ter. O problema também alcança a outra ponta, dos jovens que estão no ensino superior. “As universidades estão falando de alunos que não são tão maduros e independentes quanto era de se esperar”. Aqui, esses jovens estão lutando para dar conta da vida acadêmica porque muitas coisas que ajudam a tornar essa experiência possível, como a convivência com outros jovens, não aconteceu por um ou dois anos. “É possível afirmar que, sim, pode afetar diferentes grupos”, destaca Ford.

Para uma parte significativa de formadores de opinião e de especialistas na área de saúde mental, os casos de ansiedade e de depressão estão associados ao uso das mídias sociais. Quisemos saber, então, se uma “dieta” mais equilibrada em relação ao Instagram, Twitter e Tik Tok, entre outros aplicativos, teria sido mais indicada aos jovens nos anos de pandemia. “Penso que, sim, alguns indivíduos podem estar em situação de extrema vulnerabilidade quando são expostos a sites que promovem o suicídio, por exemplo. Mas não acho que podemos ter uma ampla resposta contra as mídias sociais, porque existem muitos jovens que se desenvolvem nesse ambiente e mantêm relacionamentos, interesses, hobbies, entre outras atividades. Então, é uma responsabilidade para a sociedade como um todo: os pais que devem ensinar às crianças a serem cuidadosos e seletivos; as escolas, que devem preparar com informações adequadas; e num outro nível para os legisladores. Nós ainda estamos aprendendo. Acredito que temos de levar em consideração todos esses aspectos para ajudar nossas crianças a estarem seguras online”, comenta Heyman.

Na última resposta, Tamsin Ford e Isobel Heyman ressaltam que é importante que pais e professores também recebam atenção no que se refere ao cuidado à saúde mental. “Nós não devemos desprezar a dor e o impacto que o diagnóstico de ansiedade e depressão em uma criança pode provocar em pais e mães. Eles precisam de ajuda e de informação a respeito”, finaliza Ford.

A íntegra da entrevista de Isobel Heyman e Tamsin Ford ao Podcast Rio Bravo pode ser acessada a partir do link acima.


¹ It’s Life or Death: The Mental Health Crisis Among US Teens. Disponível em: https://www.nytimes.com/2022/04/23/health/mental-health-crisis-teens.html. Último acesso: 26 jun. 2022.

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