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Shakespeare, 460 anos: o espelho mágico do Bardo

“Ele não era de uma época, mas de todos os tempos!” O conhecido elogio de Ben Jonson a Shakespeare inicia a longa tradição de apresentar Shakespeare como artista cujo gênio incomparável flutua acima do tempo e do espaço. Não importa o quão radicalmente diferentes sejam suas plateias, nem quão distantes estejam no tempo, suas peças seriam capazes de descrever com perfeição, para cada uma delas, o sentido da jornada humana. Elisabetanos e pós-modernos, cujas experiências são virtualmente incomensuráveis, se encontrariam, não obstante, no reconhecimento comum do talento quase sobrehumano do Bardo. O divertidíssimo Shakespeare in the bush, de Laura Bohannan (há uma boa tradução brasileira, de autoria de Lenita Rimoli Esteves e  Francis Henrik Aubert), brinca exatamente com esse pressuposto, tão amplamente difundido, da universalidade atemporal da obra shakesperiana.

Há algo de incontestável na afirmação de um Shakespeare supra-histórico: sua obra tem sido celebrada, com grande entusiasmo, em diferentes culturas, em diferentes épocas. Mas há, também, algo de enganoso nesse aplauso geral. A seleção de peças, de temas e sobretudo, das molduras de interpretação com que as platéias se apropriam de Shakespeare tem variado radicalmente diversa ao longo do tempo. Não sem ironia, o teatro de Shakespeare cumpre fielmente, assim, a função que Hamlet atribui à arte dramática em geral, que é a de mostrar a “cada época e geração sua forma e efígie”.

O Shakespeare que celebramos hoje é, portanto, o espelho em que desejamos ver nosso próprio rosto, nossa “forma e efígie”. Nossas preferências em relação ao Bardo revelam essa vontade de escolher um ângulo do espelho que nos seja favorável. Se o talento de Shakespeare é sempre inegável – como evidentemente é – por que assistimos repetidamente a algumas de suas peças (quantas montagens teatrais, quantos filmes já vimos tendo por tema Romeu e Julieta, Macbeth ou Hamlet, por exemplo?) e muito mais raramente a outras (quantos se lembram de já terem asssistido Tímon de Atenas, Trabalhos de amor perdidos, Cymbeline, por exemplo)?

A resposta, é plausível supor, está em nós, no uso que fazemos do Bardo para iluminar preocupações específicas, para legitimar teses e perspectivas que nos parecem caras. “Shakespeare já dizia isso” (mesmo quando a proposição é fortemente duvidosa) é um argumento que empresta credibilidade a qualquer tese. A pluralidade vertiginosa e a densidade de perspectivas que Shakespeare, prestidigitador incomparável, consegue construir em seus textos permite exatamente essa apropriação seletiva.

A dificuldade que a crítica especializada encontra para estabelecer com clareza as posições políticas e religiosas de Shakespeare – ele seria católico? ateu?; teria simpatia a ideias republicanas? era um defensor convicto do absolutismo monárquico? – reforça essa ideia de que o gênio do Bardo derivava justamente de ser esse enigma permanente, um caledoscópio que, girado por mãos diferentes, produz imagens novas mas invariavelmente belas.

Essa multiplicidade inesgotável de imagens e os discursos que se podem construir a partir da obra se Shakespeare são testemunho da esplendorosa genialidade do autor, é certo, mas ela diz muito, também, daqueles que o invocam como patrono de suas causas.

Por que nossa época hipertecnológica, narcísica e pós-moderna o celebra como o “inventor do humano”, como o escritor que dissecou e descreveu com cruel exatidão cada traço da experiência humana? O que nos leva a adotar uma leitura de Shakespeare radicalmente oposta a alguns de seus críticos ilustres?

O grande Leo Tolstói, por exemplo, afirmava que “a glória inquestionável de grande gênio de que Shakespeare desfruta e que leva […]  leitores e espectadores encontrar nele méritos inexistentes – distorcendo assim sua compreensão ética e estética – é um grande mal, como o é toda grande mentira”

Bernard Shaw, um expoente da dramaturgia, considerava que era sua obrigação “abrir os olhos dos ingleses para o vazio da filosofia de Shakespeare, a superficialidade e falta de originalidade de sua moralidade, sua fraqueza e incoerência como pensador, seu esnobismo, seus preconceitos vulgares, sua desqualificação para todo o tipo de eminência filosófica que atribuem a ele”

Essas avaliações tão distintas daquelas que nos habituamos a ouvir em relação a Shakespeare aumentam seu fascínio para nós, como público. Elas nos ajudam a intuir sentidos ocultos na obra do Bardo, matizes que nos iludem, sugestões ideológicas que nos escapam. Elas deixam claro que é magnífico o espelho que ele apresenta a nossos olhos e que é fascinante aquilo que ele nos permite aprender sobre nós mesmo.

A celebração dos 460 anos do nascimento de Shakespeare pode servir de convite, assim, para olharmos novamente no espelho que sua obra interminável nos oferece e para prescrutarmos qual é a face que ele nos revela.

Por: José Garcez Ghirardi

José Garcez Ghirardi é professor da FGV Direito e é autor, entre outros, de O mundo fora do prumo – transformação social e teoria política em Shakespeare (Almedina, 2011) e de Prisões, bordéis e as pedras da lei: ensaios em arte e direito (Editora Del Rey, 2020)

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Podcast 796 – Do esporte de alta performance à jornada da ClearSale

Rio Bravo entrevista Pedro Chiamulera.

Pedro Chiamulera teve uma vida totalmente diferente antes de fundar, em 2001, da ClearSale, uma solução antifraude white label e customizada para cada cliente. Ainda na adolescência, Chiamulera se tornou velocista e, anos depois, participou de duas edições dos Jogos Olímpicos, em 1992 em Barcelona e em 1996 em Atlanta. Na entrevista que concede ao nosso Podcast, Pedro Chiamulera articula essa experiência à sua trajetória profissional, além de destacar as características da tecnologia antifraude, bem como sua visão para essa modalidade de negócio daqui para frente.

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Dicas de Conteúdo O melhor da semana para você

Livro: A Coragem de não Agradar – Ichiro Kishimi e Fumitake Koga

 O livro, em formato de diálogo entre um filósofo e um jovem, trata das ideias de Alfred Adler. Pra quem não tem familiaridade com temas psicológicos, o livro surpreende por rebater as grandes ideias de Sigmund Freud, difundidas e aceita pela maioria da sociedade. As discussões entre o jovem e o filósofo que traz a tona temas complexos, mas enfrentados por todos em vários momentos da vida, como auto aceitação, capacidade de mudar, relações interpessoais e traumas, são intrigantes, e as soluções exploradas pelo livro são desconcertantes.

Podcast: Histórias em Meia Hora

O podcast, criado pelo professor de história Vitor Soares, conta trechos importantes da história nacional e mundial em 30 minutos! Passando pelo Império Otomano até a criação da Yakuza, ou pulando para as Cruzadas e saltando para a história do Budismo e depois para um detalhado episódio sobre Leonardo da Vinci, o podcast aborda todo e qualquer tema de forma informal e direta e envolvente.

Whiplash: em busca da perfeição

Até que ponto se pode ir para se alcançar a perfeição? Qual a definição de sucesso? Qual o custo? O tema central deste filme é a possível contradição entre sucesso e equilíbrio. Mais ainda, o papel de um tutor na formação de um aluno. O filme retrata a história de um baterista que acaba se encantando por seu professor e pelos métodos agressivos de força-lo ao limite com o objetivo de se tornar um grande nome no cenário do jazz americano.

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As Melhores Dicas Culturais – O melhor da semana para você

Dicas culturais e de entretenimento

Livro: Para Poder Viver  

Yeonmi Park relata em “Para Poder Viver” a sua fuga da Coreia do Norte e o caminho que teve que percorrer rumo à liberdade. A autobiografia relata a infância de Yeonmi na ditadura Norte-Coreana e a sua travessia pela China até a Coreia do Sul. É uma história impressionante de muita coragem e perseverança, que demonstra a luta da autora e sua vontade de viver.

Podcast: Endörfina  

O podcast Endörfina de Michel Bögli convida atletas, empresários, treinadores e diversas outras pessoas que possuem uma paixão pelo esporte a relatar suas histórias. Em cada episódio, os ouvintes têm a oportunidade de conhecer melhor a trajetória dos convidados do podcast e saber o que os tornam grandes campeões e pessoas de muito sucesso.

Musical Beetlejuice

Nos anos 80, Tim Burton lançou a comédia “Beetlejuice – Os fantasmas se divertem”, que foi um grande sucesso. Em 2019, o filme virou um musical da Broadway, indicado a diversos Tony’s Awards. Agora, o musical finalmente chegou ao Brasil com a direção de Tadeu Aguiar e o protagonista Eduardo Sterblitch. A peça está ocorrendo no Teatro Liberdade, em São Paulo, até o dia 28 de abril de 2024.  

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O melhor da semana para você – 01/03/2023

Livro: Soft skills: competências essenciais para os novos tempos

Nessa trilogia, a autora principal Lucedile Antunes e outros convidados, mostram que mais do que dominar habilidades técnicas, os profissionais do futuro serão selecionados pelo comportamento.

O que Soft Skills tem a ver com essa nova realidade?  Tudo. Soft Skills é um termo em inglês usado sobretudo por profissionais da área de recursos humanos para definir habilidades comportamentais.

A frase de Peter Drucker permanece uma máxima: “As pessoas são contratadas pelas suas habilidades técnicas, mas são demitidas pelos seus comportamentos”.

Sabe-se que nove em cada 10 profissionais, cerca de 90% das pessoas, são contratadas pelo currículo (Hard Skills) e demitidas pelos comportamentos (Soft Skills). A informação é do levantamento de 2018 da Page Personnel, consultoria global de recrutamento para cargos de nível técnico e suporte à gestão. Os dados destacam que não basta profissionais qualificados tecnicamente, com ótimos cursos e atividades complementares para ser selecionado para uma vaga. Relacionamento interpessoal, comunicação, liderança, negociação, empatia etc., vão muito além dos bancos de faculdade.

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Podcast: #Provocast – Marcelo Tas  

Marcelo Tas é comunicador e educador. A ênfase do trabalho dele está em explorar as fronteiras da linguagem nas várias mídias onde atua. Marcelo Tas comanda o Provoca, uma encarnação do programa que idolatra a dúvida, criação de Antônio Abujamra e Gregório Basic. Entrevistas com gente interessante que você conhece, e com gente que você nem sabia que precisava conhecer. Muita conversa, zero papo furado. Todas as perguntas são bem-vindas e só uma resposta é proibida: “Porque sim” — que, todo mundo sabe, não é resposta. O #Provocast é a versão podcast do Provoca – Além da íntegra do bate-papo provocador com convidados de diferentes áreas, Marcelo Tas também comenta a repercussão de cada entrevista na internet.  

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O melhor da semana para você – 16/02/2023

Livro: Shoe Dog  (A Marca da Vitória)

Phil Knight, o homem por trás da Nike, sempre foi uma figura envolta em mistério. Agora, neste livro franco e surpreendente, ele conta sua história. Aos 24 anos, depois de se formar e viajar como mochileiro pelo mundo, Knight decidiu que não seguiria um caminho convencional. Em vez de trabalhar para uma grande corporação, iria à luta para criar algo próprio, dinâmico e diferente.

Com 50 dólares emprestados pelo pai, ele abriu em 1963 uma empresa com uma missão simples: importar do Japão tênis de alta qualidade e baixo custo. E mal acreditou quando conseguiu vender rapidamente todos os calçados de suas primeiras encomendas. Mas o caminho até tornar a Nike uma das marcas mais emblemáticas, inovadoras e rentáveis do mundo não foi fácil, e Knight fala em detalhes dos riscos que enfrentou, dos concorrentes implacáveis e de seus muitos triunfos e golpes de sorte.

Confira a autobiografia do criador da Nike para saber mais sobre essa grande história.

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Podcast: FREAKONOMICS RADIO  

Freakonomics é um podcast internacional, liderado por Stephen J. Dubner, que buscar relevar o lado oculto dos mais variados assuntos. Por que é mais seguro voar de avião do que dirigir um carro? Como decidimos com quem nos casar? Por que a mídia está tão cheia de más notícias? Além disso: coisas que você nunca soube que queria saber sobre lobos, bananas, poluição, mecanismos de busca e as peculiaridades do comportamento humano.   O podcast está disponível nas principais plataformas de streaming.  

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Cultura: Templo Zu Lai (Cotia)

Templo Zu Lai é o maior templo budista da América Latina e está localizado em Cotia, na grande São Paulo. Vinculado ao budismo chinês, conta com aproximadamente 10.000 metros quadrados de área construída.   Dentre as suas atividades, há dias abertos para a visitação, práticas de meditação, além da cafeteria, e lojinha local.  

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Podcast 786 – Silviano Santiago: Quando o vencedor do Prêmio Camões discute a cultura brasileira

Quando o vencedor do Prêmio Camões discute a cultura brasileira

“Grafias de vida – a morte” é o mais recente livro do escritor mineiro Silviano Santiago, uma das principais referências no campo dos estudos literários no Brasil. O livro traz uma antologia acerca da produção cultural brasileira, explorando as características estéticas de artistas variados, de Mario de Andrade a Lygia Clark, com destaque, ainda, para o jornalismo cultural de Joan Didion e a meditação sobre o estilo tardio, em alusão à obra do intelectual palestino Edward Said. Em entrevista ao nosso Podcast, Silviano Santiago recupera suas influências literárias, com ênfase para Carlos Drummond de Andrade; comenta a recente controvérsia em torno da nova lista de livros obrigatórios da Fuvest (que estabeleceu apenas autoras mulheres para os próximos exames de ingresso na USP); e reflete a sobre o recebimento do Prêmio Camões, um dos mais importantes da literatura de língua portuguesa, dado pelos governos de Portugal e do Brasil.

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Crepúsculo dos Deuses

Crepúsculo dos Deuses e o Marketing das Franquias no Cinema

Numa época em que a fórmula de marketing das franquias cinematográficas parece ter se esgotado, o ano de 2023 pode ter sido o primeiro passo para uma nova direção na sétima arte

                                                                                por Luís Villaverde

É cedo para dizer, mas acho que podemos resumir o cinema no ano de 2023 em uma palavra: transição. Todo tipo de constatação abrangente como essa corre o risco de cometer algum tipo de injustiça, seja deixando coisas de fora, seja interpretando outras por um viés restrito. Não, não é uma definição perfeita nem categórica, mas acho que ela pode nos ajudar a compreender quais foram as transformações pelas quais passaram o cinema neste ano.

          Em primeiro lugar, o “sistema” hollywoodiano foi bastante abalado. Uma série de estrondosos fracassos de bilheteria podem ter lançado luz sobre o esgotamento de todo um sistema de produção e marketing das franquias. Ao menos desde 2010, o cinema americano foi marcado por aquilo que se convencionou chamar de Era das Franquias. O estúdio que se tornou símbolo desta tendência foi, claro, a Disney, mas todos os estúdios hollywoodianos de uma forma ou de outra tentaram aderir a essa tendência, com variados graus de sucesso.

 Desvendando o marketing das franquias

Resumidamente, o filme de franquia coloca a marca acima de tudo. É ela que deve ser trabalhada e protegida, em detrimento de todas as outras coisas, inclusive dos filmes em si. Marvel, Pixar, DC, Velozes e Furiosos etc. A febre por universos cinematográficos, com múltiplos filmes, séries e games conectados entre si numa grande narrativa é o principal recurso estático da Era das Franquias, que parece ter chegado em sua fase metalinguística (pós-moderna?) com a ênfase em multiversos, com múltiplas variações e iterações de uma mesma franquia/personagem. Além disso, reconhecimento de marca (Brand Recognition) passa a ser Ela também marca, uma tendência que por vezes foi chamada de “a morte do astro de cinema”. O público não iria mais ao cinema por conta de um nome ou rosto reconhecido no pôster, mas sim pelo personagem.

Esse fenômeno fica claro quando vemos que os filmes do Thor ou do Capitão América são tremendos sucessos, mas os filmes dos astros que os interpretam – Chris Hemsworth e Chris Evans – são completamente ignorados. Filmes de franquia são caríssimos, não só pelos custos de produção e efeitos visuais, mas principalmente por conta do marketing.

          São filmes globais, que miram mercados internacionais, principalmente o chinês, e que, por isso, precisam apelar para um número gigante de pessoas de culturas diferentes. A mensagem tem que ser simples, clara, e facilmente vendida em uma campanha publicitária. Efeitos visuais impressionantes e coloridos certamente ajudam neste processo, assim como uma estrutura modular, com trechos e passagens dos filmes que podem ser alterados, substituídos ou mesmo retirados totalmente, como forma de se adequar a outros mercados e públicos. Por fim, obviamente, a marca reconhecível já faz por si só metade do trabalho de chegar ao consumidor final. Por isso que os últimos anos também foram marcados por continuações, remakes, reboots e legacy sequels, como as de Indiana Jones, Star Wars e Caça-Fantasmas. E, até então, o modelo funcionava. Repetidamente, os filmes da Marvel (hoje, mais de 30, sem contar os seriados de TV) batiam recordes de bilheteria, assim como remakes em live action de clássicos desenhos da Disney. E, no entanto, em 2023, estes filmes fracassaram.

          Homem Formiga e Vespa: Quantumania (Disney/Marvel) foi um fracasso de bilheteria e de crítica, e Guardiões da Galáxia Vol. 3, apesar de ser um sucesso de público e crítica, e ter lucrado, fez menos dinheiro que os episódios anteriores. Da DC/Warner, The Flash e Besouro Azul foram “bombas” na bilheteria que só seriam suplantadas pelo estrondoso fracasso de Indiana Jones e o Chamado do Destino (Disney/Lucasfilm) e As Marvels (Disney/Marvel). O décimo Velozes e Furiosos, apesar da bilheteria, não lucrou, e teve uma recepção morna, para não dizer, indiferente. Podemos ainda citar outros fracassos como Shazam! A Fúria dos Deuses e Transformers: O Despertar das Feras. A sobrevida das extensões dessas franquias em streamings também não foi das melhores. Para um meio tão dependente de “buzz”, quase ninguém falou das produções da Marvel neste ano, e muito menos da Lucasfilm (Star Wars).

Barbie e Oppenheimer: o fenômeno Barbenheimer

Surpreendente mesmo foi o sucesso estrondoso de Barbie, de Greta Gerwig; e Oppenheimer, de Christopher Nolan. O segundo é notável por ser um longa dramático, de três horas de duração, cujo assunto é, principalmente, física quântica. Apesar de um elenco recheado de astros de cinema, o papel principal, não é. Cilian Murphy é, sem dúvida, um ator conhecido, principalmente da TV (graças à série Peaky Blinders), mas é longe de ser um astro como Robert Downey Jr, que interpreta seu rival no filme. Além disso, a campanha de marketing das franquias foi focada fortemente em Christopher Nolan, o seu diretor/autor, pois não há uma franquia ou marca para ser trabalhada. O filme fez quase 1 bilhão de dólares nas bilheterias, e as vendas de BluRay estão esgotando os estoques. Isso se contrapõe a toda a narrativa dos últimos anos, de que o público não só não consome filmes originais, como tampouco consumiria filmes nos cinemas, que seriam ocupados somente por filmes de franquias voltados a crianças e adolescentes – isso sem mencionar o fato de que muitos decretaram a morte da mídia física.

          Barbie é igualmente notável. A princípio, é um filme de franquia. Barbie é a marca de bonecas mais famosa do mundo, e as bonecas impactaram ao menos três gerações de mulheres no mundo inteiro. Todo mundo sabe o que é uma Barbie. E, no entanto, a diretora e roteirista Greta Gerwig conduziu a super-produção (que custou bem menos que um filme da Marvel ou da DC, no entanto) da mesma forma como dirigia seus pequenos filmes independentes, como Frances Ha e Little Women. Tem sido uma tendência da indústria da franquia audiovisual contratar diretores oriundos do cinema independente para tocar super-produções – é o caso de James Gunn, Taika Waititi, Jon Favreau etc. Ao usar diretores inexperientes em super-produções, mas com talento para atores, os executivos conseguiam exercer mais controle sobre toda a linha de produção de um filme, em especial no roteiro e efeitos especiais. Na contramão disso, Gerwig fez seu filme com poucos efeitos especiais digitais e muito mais liberdade criativa. Tendo em vista que Barbie se tornou o maior sucesso comercial do ano, não é de se espantar que o fenômeno Barbenheimer tenha surpreendido – e, talvez, assustado tanto – os executivos.

Taxi Driver, impossível nos dias de hoje

Nos anos 1960, Hollywood entrou em uma crise profunda. Seus filmes não davam mais o retorno que davam antes, e o público migrava cada vez mais para a televisão. Regida por um rígido código de censura moralista, o infame Código Hayes (que, além de interditar nudez, palavrões, sexo, proibia que personagens corruptos ou mesmo ambíguos existissem e triunfassem nos filmes), o cinema hollywoodiano passou a ser algo tosco, canhestro e cafona, principalmente diante de uma nova geração que celebrava os primeiros passos da “youth culture”. Poesia beat, rock’n’roll e os primeiros passos da contracultura, que se mesclaria com a revolução sexual e a legislação dos direitos civis acentuou a defasagem de Hollywood em relação ao resto dos Estados Unidos. Isso ficou claro quando filmes estrangeiros, esses sim realmente transgressores e em sintonia com as tranformações culturais do mundo ocidental, começaram a lucrar mais que o cinema de Hollywood. Falo aqui dos filmes de Jean Luc Godard, François Truffaut, Pier Paolo Pasolini, Ingmar Bergman e tantos outros mestres europeus. Desesperados, os estúdios logo passaram a contratar uma nova geração de executivos, que encontrassem um jeito de renovar o próprio cinema americano. Deles, dois se destacam: Alan Ladd, Jr. e Robert Evans. Os novos executivos tinham que buscar talento em lugares inusitados, fora do circuito tradicional. Evans, por exemplo, fez a manobra ousada de contratar um jovem rebelde da primeira turma da faculdade de cinema da USC (University of Southern California), e deu liberdade total para que esse jovem – Francis Ford Coppola – tocasse a adaptação de grande orçamento de um bestseller: O poderoso chefão, de Mario Puzo. O resto, bem, é história – no caso, a da Nova Hollywood, a geração de Coppola, Martin Scorsese, William Friedkin, Michael Cimino, Robert Altman, Peter Bogdanovich, Monte Hellmann, James Toback, Steven Spielberg, Brian De Palma e George Lucas, para citarmos somente alguns.

          Os filmes desses diretores iam no sentido contrário de tudo que víamos até então, libertados das amarras do Código Hayes, que deixou de vigorar em meados dos anos 1960. Seus filmes revisaram e atualizaram gêneros clássicos, como o filme de gângster, o drama, o horror, o policial e musical, mas sempre trabalhando numa chave em profundo diálogo com tendências vanguardistas e moralmente complexas e ambíguas. Basta pensar em um personagem como Travis Bickle (Robert De Niro), o protagonista de Taxi Driver, de Scorsese. Impossível nas décadas anteriores – e praticamente impossível, no cinema mainstream, hoje.

          A Nova Hollywood também entrou em decadência. Filmes de Scorsese, Friedkin e, principalmente, Michael Cimino, fracassaram estrondosamente nas bilheterias. Tal fracasso foi pareado por uma onda de novos blockbsuters, como filmes catástrofe e de ficção-científica – no caso, Star Wars, de George Lucas. É o começo do cinema blockbuster contemporâneo, que se transformaria no cinema high concept nos anos 1980 e 1990 (o termo é de Justin Wyatt) – neles, o marketing das franquias é o mais importante, e não é de se surpreender que Hollywood tenha renovado seu talento criativo com diretores oriundos da publicidade e dos videoclipes: é a geração de Tony Scott, David Fincher, Michael Bay, Zack Snyder, Dominic Sena, Antoine Fuqua. Filmes estilosos, com trilha sonora pop licenciada e tramas geralmente simples, facilmente aproveitadas pelo marketing das franquias. Isso, somado ao sucesso blockbuster de Batman, de Tim Burton, e os filmes de Star Wars, e temos a gênese do atual cinema de franquia – que parece estar mostrando sinais de cansaço.

          Com isso, não quero dizer que teremos uma Nova-Nova Hollywood. A história não se repete, nem mesmo no cinema. Hoje em dia, não temos só a televisão e o rádio, mas podcasts, redes sociais, Tik Tok, streamings. Um mundo muito mais globalizado e, por vezes, homogeneizado. Não temos uma contracultura – talvez, uma “microcultura”, como diz o crítico Ted Gioia. Não vivemos a era das grandes meta-narrativas, nem mesmo a da sua dissolução – vivemos em um mundo muito mais fragmentado, que tem seus meios de produzir suas próprias meta-narrativas e realidades paralelas.

          Além disso, a Era das Franquias gerou bilhões de dólares de uma maneira extremamente consistente por mais de uma década. Não são alguns fracassos que vão parar a máquina, nem mesmo quando contrastado com o sucesso pontual e surpreendente de alguns filmes de “autor”. É cedo para dizer, ainda mais tendo em vista que teremos um status quo novo em Hollywood, após as longas greves de roteiristas (do WGA, o Writers Guild of America) e dos atores (o SAG, Screen Actors Guild).

O avanço da Inteligência Artificial  e a força do “conteúdo”

Afora isso, temos a própria questão tecnológica. Ao longo de 2023, muito se comentou a respeito do avanço da IA (Inteligência Artificial), principalmente para classes artísticas, políticas e jornalísticas. Ferramentas como o ChatGPT e Midjourney abalaram diversas profissões com a ameaça de substituir artistas visuais e da palavra, tanto que a IA foi uma constante nos protestos dos roteiristas e atores de Hollywood. Mas também devemos olhar para outra palavra que conquistou de vez os holofotes: conteúdo.

          “Conteúdo” se tornou um termo polêmico. O termo em si, no contexto cultural, surge no meio tecnológico de gigantes como a Microsoft e o Google. Com a ascensão de redes sociais como o Twitter (atualmente X), Facebook e YouTube, o usuário da rede também se tornou um produtor de conteúdo, seja ele vídeo, um post longo no Facebook, uma foto no Instagram ou um microblog no Twitter. Logo, a palavra se expandiu para o cinema, a TV e a música. Junto a ela, também passamos a escutar muito sobre “retenção de espectador”, “algoritmos”, “pipeline” e, claro, nossa velha conhecida: “brands”. É um vocabulário corporativo das gigantes de tecnologia. Martin Scorsese, em 2021, atentou para o fato de como chamar cinema de conteúdo termina por desvalorizar a arte. Segundo ele, cinema não é só um contêiner de mensagens e narrativas; arte, pelo contrário, possui uma riqueza de significados e sensações, não tão facilmente captáveis com “conteúdo”. Já Guillermo Del Toro apontou que “pipeline” – linha de dutos, em tradução literal, termo que remete ao cronograma e calendário de produção, pós-produção, marketing das franquias, lançamento e distribuição de filmes e séries – é um termo que geralmente é aplicado para gasodutos e esgotos. Segundo ele, filmes, TV e música não podem ser simplesmente despejados sobre o espectador, pois isso também desvaloriza a arte. Artistas como Matt Damon, Tilda Swinton, Christopher Nolan e Quentin Tarantino, para citarmos alguns, também expressaram desgosto diante dessa postura e da infiltração desse vocabulário corporativo em um meio artístico.

          Pode parecer mera birra de artistas ricos e consagrados –  e velhos – diante dos inevitáveis avanços da tecnologia e progresso da sociedade. Mas eles têm razão. Arte é uma forma de comunicação profunda, que requer paciência, tempo e concentração. Em uma era hiperconectada e com déficit de atenção, o que esses cineastas estão falando é praticamente uma declaração de guerra. E filmes como Oppenheimer, Barbie, assim como Assassinos da Lua das Flores, Napoleão, O Assassino – e mesmo o sucesso autoral de James Gunn em Guardiões da Galáxia Vol. 3 podem apontar para o fato de que o espectador também esteja se cansando do modelo de streaming, de home viewing e da produção padronizada e sem sabor, ditada por algoritmos e todo aquele vocabulário corporativo vazio. É difícil saber se os streamings estão passando por uma crise, uma vez que há pouca transparência em relação a dados de audiência, mas, diante de mudanças drásticas, como aumento generalizado de cobrança, diversificação do catálogo, diminuição no ritmo de lançamentos, e a entrada de publicidade na programação (e, na verdade, a própria adesão a um modelo de programação mais tradicional) apontam para o fato de que, talvez, nem tudo vá bem no Vale do Silício.

          Quando unimos essas duas tendências – a Era das Franquias e do Conteúdo – um retrato aparece. Nas telonas, tivemos uma proliferação de blockbusters de super-heróis e de outras grandes franquias, com tramas simples repletas de efeitos especiais e tendo em mente um público jovem. Isso fez com que gêneros tradicionais e consagrados, como policial, thriller, drama, romance, comédia (cada um com seus subgêneros e variantes) praticamente desaparecesse das salas de cinema. Claro, ainda há os filmes independentes, de distribuição restrita, mas estes gêneros, outrora comuns e populares, migraram para a TV e streamings. Seja na forma de filmes exclusivos, ou de seriados e minisséries, o fato é que o cinema voltado para adultos, e de orçamento mid-budget não encontra mais espaço nos principais cinemas. Personagens ambíguos e complexos, inseridos em tramas moralmente ambivalentes, como os que tínhamos nos filmes da Nova Hollywood, são encontrados hoje em personagens como Tony Soprano (Família Soprano), Walter White (Breaking Bad), Don Draper (Mad Men) e a família Roy (Succession). Mas estas séries, no entanto, são a exceção. A ascensão do “conteúdo” gerou um achatamento estético, temático, narrativo e, principalmente, imaginativo. A proliferação de expressões e terminologia corporativa e comercial no jornalismo especializado, nas resenhas e mesmo nas bocas de diretores e atores, em entrevistas, se tornou mais comum do que a discussão dos méritos artísticos e estéticos. O resultado dessa união é a sensação de um empobrecimento geral da arte.

          Cinema e TV, mais do que qualquer outra arte, representam o ápice da relação entre Arte e Comércio. Raramente as duas coisas andam juntas, mas os altos custos de produção nestes meios exigem o comercialismo, seja na forma de marketing das franquias, seja na distribuição, seja na escolha de temas, roteiros, histórias e interferências de executivos de toda sorte. Isso não é novo. Mas, como tentei apontar, esse cabo de guerra às vezes fica mais para um lado do que para o outro.

O curioso de um momento como o da Nova Hollywood é que não é simplesmente que o campo da Arte venceu – os filmes desse período foram, em geral, grandes sucessos comerciais. É como se executivos e cineastas tivessem resolvido a “equação completa do cinema” (palavras de F. Scott Fitzgerald). O fato é que atualmente, na Era das Franquias, o comércio encampou sua vitória. Mas é um campo que parece estar mostrando sinais de cansaço, ainda mais diante da força renovada do outro campo. Neste ponto, 2023 me parece ser o primeiro sinal de uma transição, de uma nova passagem. Quem comandará isso, e como isso se dará, é muito cedo para dizer, ainda mais quando vivemos em um “ecossistema” midiático muito mais complexo e multifacetado. Mas que uma mudança está ocorrendo, creio que não restam dúvidas.

*Luís Villaverde é cineasta, roteirista e escritor. Para mais textos do autor.

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Dicas de leitura – 14/10/2022

Sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Como Responder a um Dólar forte?

O dólar tem atingido máximas recentemente, especialmente em virtude do agressivo ciclo de aperto monetário que ocorre nos EUA. A valorização da moeda americana tem implicações importantes para as demais economias do mundo. Desta forma, esse artigo do blog do FMI de Gopinath  e Gourinchas sugere políticas de intervenção para que os países consigam lidar com os efeitos de valorização do dólar, especialmente os efeitos sobre a inflação.

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Cultura

A Recentemente vimos as premiações do Nobel de 2022. Para o prêmio da literatura, a vencedora foi a francesa Annie Earnoux. Assim, a dica cultural de hoje é uma matéria do Estadão que traz as contribuições da autora para a literatura, especialmente no gênero de autoficção, e uma lista de 5 livros para conhecer sua obra.

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Recomendação Rio Bravo

No domingo, dia 16 de outubro, teremos o Congresso do Partido Comunista Chinês e provavelmente veremos mais um mandato do atual líder chinês Xi Jinping. Para conhecer um pouco mais do atual líder da segunda maior economia do mundo, a Recomendação Rio Bravo de hoje é a série de Podcasts da The Economist chamada The Prince, que conta a história do atual líder chinês, do nascimento ao poder.

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Dicas da Semana – A inclusão começa por você 28/10/2022

Hoje vamos continuar a falar sobre diversidade religiosa  e algumas religiões com forte influência no Brasil, como as de matrizes africanas: a escravidão colocou em contato as religiões de diferentes povos africanos, que acabaram por assimilar e trocar entre si elementos semelhantes de suas culturas. Assim se sobrepuseram e se fundiram ritos de origem distinta num amálgama comum de que surgiram as religiões afro-brasileiras.

De uma perspectiva histórica, todas essas formas de religiosidade foram vistas pelos colonizadores europeus e cristãos como perigosas expressões de idolatria e pecado. Ainda hoje persiste essa visão que associa expressões religiosas afro-brasileiras como o candomblé e a umbanda a ritos demoníacos de feitiçaria.

As religiões afro-brasileiras recebem nomes diferentes dependendo do lugar e do modelo de seus ritos. No Nordeste, por exemplo, há o Tambor-de-mina maranhense, o Xangô pernambucano e o candomblé baiano. Temos também a Cabula no Espírito Santo, o Catimbó na Paraíba, a Quimbanda na Bahia. No Rio de janeiro e São Paulo prevalecem a umbanda e o candomblé e no Sul, o batuque gaúcho.

Falaremos hoje, sobre as 2 religiões africanas mais conhecidas no Brasil:

Candomblé

O candomblé é mais antigo e está muito mais próximo dos ritos africanos, pois é uma junção mais pura e direta dos diversos cultos africanos trazidos pelos negros escravizados. Estima-se que surgiu na Bahia e espalhou-se, primeiramente, por terras nordestinas. Os rituais do candomblé são muito mais parecidos com os rituais africanos, com batuques, danças e oferendas. Como advém de povos diferentes, essa religião não é praticada de maneira única e possui, ao menos, quatro denominações diferentes:

  • Ketu, de tradição yorubá, dos povos nagô;
  • Jeje, de tradição fon, dos povos jeje;
  • Bantu, de tradição bacongo, dos povos angolanos;
  • Caboclo, junção das entidades africanas e dos espíritos cultuados pelos povos indígenas;”

Nos rituais do candomblé, são feitas oferendas (geralmente comidas típicas) para agradar aos orixás, acompanhadas de batuques e dança. As batucadas e os cantos que acompanham a música variam de acordo com a origem da denominação em prática no terreiro. Os ketus, por exemplo, têm cantos entoados em yorubá (língua dos povos daquela etnia), enquanto os bantus (angolanos) entoam cânticos em bantu bacongo.”

Umbanda

Nascida no Brasil em 1908 por meio de um jovem chamado Zélio Fernandino de Moraes, a umbanda (palavra originada do dialeto quimbunda que significa curandeirismo ou arte da cura) é uma religião afro-brasileira que sincretiza elementos dos cultos africanos com elementos das religiões indígenas, do catolicismo e do espiritismo kardecista. A Umbanda possui três princípios básicos que são: fraternidade, caridade e respeito ao próximo.

Os umbandistas, em seus rituais, tocam batuques e cantam cânticos sagrados em português, além de receberem incorporações (por meio dos médiuns) das entidades, que têm o poder de curar, aconselhar, avaliar e modificar a vida das pessoas. Por ser uma religião de crença bastante imanente, os espíritos ou entidades têm uma ligação muito forte com a vida terrena, por isso, têm ligação com elementos presentes na vida material como o consumo de fumos, de comidas e de bebidas (algumas alcoólicas) para realizarem o que chamam de trabalho (a incorporação no terreiro durante o ritual). Estas representações se ligam a uma simbologia sagrada para tais religiões e devem ser respeitadas. O sacerdócio em terreiros de umbanda é exercido pelo Pai de Santo (caso seja homem) ou pela Mãe de Santo (caso seja mulher).

A diversidade religiosa caracteriza-se pela existência de grupos religiosos diferenciados, coexistindo num mesmo espaço social, onde a tolerância ( matriz principal do respeito à liberdade humana) permite que numa sociedade aberta, a convivência dessas diferenças oportunize um diálogo mais concreto. O produto é a valorização da própria vida espiritual e a consciência ampliada da diversidade da existência humana. Porém, na realidade, vemos que essa diversidade se tornou objeto de intolerância, gerando hostilidade, e de ódio irracional

Lembre-se: a diferença está no detalhe, empatia é fundamental e sempre é tempo de mudarmos nossa forma de pensar e agir.

Aguarde, na próxima sexta-feira, mais dicas para você.